A Petrobras anunciou uma redução nos preços da gasolina nas refinarias. O anúncio chegou como alívio para parte da população, mas causou estranheza entre analistas atentos à realidade do mercado. Afinal, não houve queda no preço do barril de petróleo no mercado internacional, tampouco uma valorização significativa do real frente ao dólar — dois fatores historicamente determinantes na precificação dos combustíveis no Brasil.
A pergunta que fica é: se os fundamentos de mercado continuam os mesmos, por que a redução agora? A resposta mais coerente não vem dos gráficos de cotação ou dos relatórios da Abicom. Vem da política.

A Paridade Ignorada
Em artigos anteriores, já discutimos a lógica do PPI (Preço de Paridade de Importação), que norteava os preços da Petrobras com base no custo de importação do combustível. Sob essa lógica, o preço praticado aqui refletiria a cotação internacional somada a custos como transporte e taxas portuárias. Foi justamente essa política que trouxe previsibilidade — mas também distanciamento da realidade brasileira.
O que temos agora, no entanto, é uma quebra silenciosa dessa lógica. O governo — por meio da Petrobras — decide reduzir os preços mesmo com a manutenção de patamares elevados para o barril do Brent e um dólar ainda acima dos R$ 5,80. Ao não seguir mais os parâmetros anteriores, a empresa sinaliza que o PPI passou a ser uma referência seletiva — usada quando convém, descartada quando politicamente necessário.
Essa instabilidade cria um ambiente nebuloso para os agentes do setor. Afinal, qual será o próximo movimento da estatal? Quando o mercado deixa de guiar os preços, abre-se margem para decisões casuísticas que favorecem popularidade em detrimento da racionalidade econômica. E quando o preço se transforma em ferramenta de campanha, o prejuízo chega na bomba — mais cedo ou mais tarde.

O Varejo Como Refém
Como já expressei em artigos anteriores — “Gasolina a R$ 7 de Novo?” e “PPI e o Varejo de Combustíveis” — o dono de posto não tem qualquer controle sobre essas decisões. Ainda assim, é ele quem precisa lidar com o cliente insatisfeito, explicar reajustes e manter as portas abertas mesmo em meio à imprevisibilidade.
O consumidor não enxerga a cadeia de formação do preço, apenas o número no painel. Quando esse número sobe, é no posto que ele desconta sua frustração. Quando cai, cobra o repasse imediato, sem compreender os prazos, estoques, impostos e margens apertadas que compõem o negócio. A falta de comunicação transparente por parte da Petrobras e do governo acaba por transformar o revendedor em bode expiatório.
Em um setor de alta competitividade, onde a margem líquida por litro muitas vezes não passa de R$ 0,50, uma política de preços errática como a atual obriga o empresário a operar no escuro. Reduzir preços sem lastro técnico pode até ser um alívio temporário para o consumidor, mas gera pânico nos bastidores do varejo. E, como temos visto, uma cadeia produtiva frágil e pressionada não sustenta alívio por muito tempo.

Uma Estratégia Ensaiada
Não é a primeira vez que o governo sinaliza uma política de preços mais intervencionista. Mas o que precisa ser dito — sem rodeios — é que ações como essa, tomadas sem previsibilidade e sem transparência, geram desconfiança no mercado.
Desde que a Petrobras alterou oficialmente sua política de preços em 2023, passando a adotar uma “estratégia comercial” mais flexível, a percepção de risco aumentou. O mercado percebe que, em momentos-chave — como eleições ou crises de popularidade — os preços podem ser usados como ferramenta política. Isso corrói a imagem da estatal como empresa de mercado e compromete sua credibilidade junto a investidores, revendedores e consumidores.
Vale lembrar: o combustível no Brasil está atrelado não só ao consumo cotidiano, mas a toda a malha logística e inflacionária do país. Quando o preço é manipulado artificialmente para agradar a opinião pública, os desequilíbrios surgem em cadeia — e quem paga a conta é sempre o elo mais vulnerável da economia. Política pública séria exige método, dados e transparência — não populismo tarifário.
A gasolina ficou mais barata, sim. Mas não se engane: não foi o dólar, nem o petróleo, nem um ganho de eficiência logística que provocou isso. Foi uma caneta. E sempre que a caneta pesa mais que o mercado, o risco recai sobre quem precisa garantir o abastecimento do país com responsabilidade — os milhares de revendedores que seguem lutando para manter seus negócios vivos.
É preciso alertar que decisões como essa criam um perigoso precedente. Se hoje o corte é bem-vindo, amanhã pode haver uma alta repentina — novamente sem base técnica. E aí, quem explicará ao consumidor o motivo do novo aumento? Quem segurará a insatisfação quando a realidade bater à porta?
O Brasil precisa de uma política de preços que respeite a inteligência do mercado e a dignidade do consumidor. Mas também precisa proteger quem está na ponta, investindo, gerando empregos e sustentando a operação diária de um dos setores mais estratégicos da economia nacional. Colocar os pingos nos is faz parte do crescimento de mercado e entendimento do papel de cada um na cadeia de fornecimento de combustíveis
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