POR QUE O SELF SERVICE (AUTOATENDIMENTO) INCOMODA TANTO A REVENDA DE COMBUSTÍVEIS?
Nos dias de hoje percebe-se que a velocidade da internet contaminou os pensamentos estratégicos dos empresários. Parece que sempre se está antecipando as jogadas como num jogo de xadrez. Isso é muito bom, mas nem sempre tudo pode ser decidido hoje com planos futuros. Isso mesmo, o tal do self service mexe com a cabeça de muitas pessoas do segmento por ser desconhecido, no Brasil mesmo não sendo novo, e não está claro em como o consumidor irá se comportar o auto atendimento ainda é um desafio.
Importante lembrar que recentemente houve um alvoroço pela mudança da política de preços da Petrobras causou esse sentimento na revenda. Imagine um mercado com um ou dois aumentos anuais de fornecedor com uma previsibilidade histórica, mudar em pouco tempo para a PPI – política de paridade internacional? Logo depois, com a mudança de governo, a volta para os reajustes espaçados e sem previsibilidade. A adaptação da revenda demorou um pouco mas chegou, apesar de ainda incomodar um pouco com isso.
A possibilidade de autoatendimento nos postos de combustíveis no Brasil não precisa, necessariamente, ser do mesmo modelo dos EUA ou Europa. O mais importante é deixar o mercado livre, os postos com a opção de inserir ou não, no seu portifólio de atendimento, a possibilidade do autoatendimento. Essa liberdade, que é negada aos postos de gasolina no Brasil, é dada a todos os demais segmentos do varejo.
Ao contrário da PPI, o autoatendimento não vai trazer uma mudança drástica e disruptiva em pouco tempo. O maior medo da revenda é a tal da verticalização, o que é isso? É a possibilidade de que as distribuidoras possam administrar postos de combustíveis diretamente se tornando concorrentes desiguais aos revendedores tradicionais e novos entrantes.
Essa possibilidade não é possível de acontecer visto que já acontece. Estamos no Brasil e sabemos que muitas distribuidoras operam postos como forma de resolver algumas questões como recebimento de dívidas, manutenção de ativos adquiridos, necessidade de expansão em áreas novas entre outros. Claro que as brechas na lei permitem que isso aconteça. Mas a questão não é essa, e sim: Se elas já operam, se as grandes redes de supermercados já operam, por que o mercado ainda não foi verticalizado?
É evidente que essa possibilidade pode ser pensada ou até utilizada pelas distribuidoras, mas a verdade é que não é só a questão dos recursos humanos que impedem a verticalização, mas a regionalidade de cada bairro, cidade e região. Estratégia de macro não cola em micro. Veja grandes exemplos como JBS, Ambev, Guararapes entre outros. Pode-se dizer que o self service não será um grande diferencial na verticalização.
Operar de ponta a ponta não é tão lucrativo quanto se pensa, principalmente no Brasil. Veja o caso das multas ambientais, você sabia que muitas delas são calculadas em cima do capital social da empresa? Consegue imaginar uma distribuidora A recebendo uma multa por um posto da cidade de Igarapé/MG? Já pensou quando o fiscal do IBAMA descobrir que se trata de um posto próprio de uma grande distribuidora? E quanto os sindicatos de trabalhadores? Será que todas as operações pagarão os cargos e salários apontados pela distribuição? Imagine todo o impacto das altas de preços, que hoje passam desapercebidos pelas distribuidoras, agora serão o foco dos consumidores, que já tem o pé atrás de grandes corporações? O autoatendimento não resolve todos os percalços de se verticalizar, isso está claro.
Será que a verticalização só tem lado ruim? Não! Existe a questão da margem, market share, domínio de mercado, previsibilidade de compra de insumos entre outros. A questão é: qual a forma mais barata de se ter isso? Bandeirando postos! Verdade, é mais simples, demanda menos energia, menos esforço e como se vê hoje em dia as distribuidoras estão nadando em margens boas enquanto a revenda se preocupa com a verticalização.
No próximo artigo falaremos mais sobre o que pode ou não acontecer com a liberação do autoatendimento.
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